Por Alice Bragg

Estou no apartamento de Mark Ellison Jr em Willesden Green, Londres. É domingo de manhã e Mark fez uma enorme garrafa de café. Mark é de Atenas, Geórgia, USA.
Ele me oferece um copo e, em seu sotaque arrastado, pergunta

“Então, vamos mudar o mundo fazendo filmes usando celulares?

“Isso mesmo” respondi.

“Legal” ele me dá o copo.

Eu e Mark acabamos de estudar Políticas do Oriente Médio juntos na Escola de Estudos do Oriente e África (SOAS), Universidade de Londres. Durante esse período escrevi minha dissertação (de mestrado) sobre o uso do teatro como ferramenta política e fiz da Palestina e Israel meu estudo de caso. Durante pesquisas na Palestina, conheci Nidal.

“Você nunca vai fazer um filme usando o celular! declarou Nidal, enquanto sentamos na varanda da frente da casa de sua família em Bethlehem. Ele faz um longo trago no narguile e passa pra mim.

Mas você pode gravar um video usando a câmera de um celular

“Mas você pode gravar um video usando a câmera de um celular” Comento, ao mesmo tempo em que levo a mangueira aos meus lábios, “e você pode transferir o arquivo do celular para seu computador” adicionei “então é claro você poderia editar esses arquivos também, certo?

“Aleeece! Os arquivos não vão para o software de edição!” o ânimo mediterrâneo de Nidal se exalta momentaneamente

Temos uma pausa enquanto ele rearranja o carvão no papel-alumínio sobre o tabaco de maçã. Insisto

“Mas você poderia converter os arquivos então eles poderiam ser usados no software de edição, não poderia?

Nidal pensa, coloca a mangueira de borracha embaixo de seu cotovelo enquanto cruza seus braços com a ponta em sua boca. Ele deu uma baforada, pensativo.

“Sim…” sua voz barítona com seu forte sotaque árabe fala lentamente “você pode…”

“Então vamos fazer – ”Tô dentro“- com alguns softwares gratuitos de conversão. Você pode achar”

“Pega meu labtob!” ordena Nidal, a determinação soprepõe o fracasso.

Eu pego. Ele posiciona o narguile ao seu lado e a pesquisa começa.

Vanessa senta na minha frente em um café na zona Oeste de Londres. Ela olha atenta enquanto explico o conceito. Vanessa está em Londres somente por alguns dias, um bate-volta durante sua viagem a Paris para visitar seu namorado. Vanessa é Brasileira. Nasceu e cresceu no Rio. Nos conhecemos quando ela estava ensinando teatro às crianças da favela como parte de um projeto de direitos humanos.

“Taaa” ela sinaliza com cabeça lentamente “usar celulares para fazer filmes”

“Sim” eu resumo “assim eles podem contar suas histórias e fazer parte da mídia.”

“Ooo-kaaay” Vanessa alonga a maioria das palavras e pontua frases com uma risadinha “esse é um bom con-ceito” ela arqueia sua sobrancelha em uma expressão atípica de seriedade “pessoas podem expressar como se sentem -”

“Sim” interrompo ”

” – e o que está acontecendo em suas comunidades” ela adiciona.

“Exatamente” respondo

“E eles podem fazer dinheiro?” Ela pergunta .

Olho pra ela do outro lado da mesa, desafiada. “Bem…seria uma possibilidade” hesito em dizer.

Seu sorriso branco perolado generosamente se revela
“Fazer dinheiro é a parte difícil, não é?!” e se acaba de rir

A África do Sul foi o primeiro lugar que o WFC realizou um programa de treinamento. Isso graças a Gerry Fox, um dos nossos Patronos e um generoso doador para instituições de caridade.

Foi durante o programa na Cidade do Cabo que conheci Simcelile Kalimashe também conhecido como Simi. Simi queria ser cineasta mas não tinha recursos para ir para uma escola de cinema. Ele viu sua oportunidade no WFC.

Depois do sucesso do programa em 2008, o WFC voltou a Cidade do Cabo em 2009. Isso impressionou Simcelile. Nós cumprimos com nossa palavra e voltamos. Dessa vez o programa era documentário de curta-metragem e um dos filmes, um retrato das condições deploráveis do transporte intermunicipal para a região central da Cidade do Cabo foi aceito no prestigioso Festival de Filmes com Celular (Festival de Filmes de Bolso/ Pocket Film Festival) em Paris. O filme teve a direção da extraordinária jovem chamada Nolufefe Myeki.

Graças a uma doação privada, foi possível contratar Joe Menell e seu parceiro Richard Mills para ensinar o programa. Joe dirigiu o crucial documentário sobre Nelson Mandela logo depois que ele foi liberado da prisão e, mais recentemente, se tornou uma celebridade nas periferias com seu popular programa “Conversa de Rua” (“Street Talk”), transmitido no canal de TV comunitário, CTV. Joe me apresentou a Shelley Barry, a então Diretora de Programação na CTV e uma das pessoas mais generosas que eu conheço. A propósito, o WFC iria começar a fazer conteúdo para a CTV.

Foi durante essa visita que o WFC começou o treinamento de tutores. Este fazia parte da metodologia desenvolvida com Jessica Rose Morgan em Londres. Jess era graduada no curso de Mídia para o Desenvolvimento da Prof. Jane Plaistow’s na Universidade de Leeds e Jane era Patrona do WFC. Ao combinar o conhecimento acadêmico de Jess com minha experiência na prática, ficamos convencidas de que a única maneira de se obter um impacto duradouro era qualificar cineastas locais e praticantes de teatro. Dessa maneira, eles poderiam administrar programas e apoiar estudantes ao iniciar uma rede de contatos na indústria de cinema. Por sua vez, os estudantes do WFC ofereceriam oportunidades criativas para cineastas profissionais ao permitir o acesso a essas geralmente inacessíveis comunidades. Eu também com uma experiência em fazer cinema me senti não somente privilegiada ao ver de dentro desses lugares, mas também entusiasmada criativamente e inspirada pelo que vi.

Shelly Barry veio para o curso de treinamento de tutores na Cidade do Cabo, assim como os alunos do curso de documentários de curta-metragem, junto com os graduados em cinema da Universidade da Cidade do Cabo. Simi veio também, e foi durante uma festa de despedida de gravações na casa de Shelley que Simi sugeriu que nós levássemos o WFC para o próximo nível. Estávamos dividindo um cigarro na varanda dela no momento

WFC pode avançar ainda mais nas periferias - poderia se tornar um movimento

“WFC pode avançar ainda mais nas periferias” Simi declarou enquanto olhávamos além das casas e distante em direção ao mar “poderia se tornar um movimento”

Isso era música para meus ouvidos.

“O que você precisa?” Perguntei a ele.

Simi parou, pensou, deu um trago, deu uma baforada

“Preciso que você volte e focalize em suas atividades na África do Sul” ele respondeu.

Considerei isso. WFC tinha certamente se estabelecido com mais solidez na África do Sul do que na Palestina, Brasil ou Reino Unido. Já existiam rumores de se fazer algo sobre a Copa do Mundo no ano seguinte. Olhei para Simi.

“Olha” eu comecei “Vou te dar 5 Rands. Se você começar a fazer as coisas acontecerem então nós assumimos”.

Na época, Jamais poderia ter imaginado que em menos de um ano nós teríamos trinta e cinco fortes grupos cobrindo a Copa do Mundo na Cidade do Cabo a partir da perspectiva da periferia e das ruas.

World Cup Reporters 2010

Demos continuidade ao nosso trabalho em Bethlehem, com um programa de documentário de curta-metragem em 2009. Durante minha visita, Eu e Nidal também treinamos profissionais de cinema e teatro locais para se tornarem tutores. Nessa época, Nidal tinha formado uma parceria com Nida, seu melhor amigo de infância, que faria o gerenciamento de projeto dos programas a partir de então. Foi nesse momento, que eu e Nidal conhecemos Karma Nabulsi, cofundadora da Fundação Hoping (Hoping Foundation) e professora na Universidade de Oxford. Karma estava visitando um de seus projetos no Campo de Refugiados de Balata em Nablus.

Nós chegamos no Centro Cultural Yafa (Yafa Cultural Center) quando as lojas estavam quase para fechar. Nablus esteve sitiada por alguns anos e tem sido difícil para entrar e sair. Mas o estado de sítio acabou, e Nidal estava empolgado para comprar kanafeh, um pudim árabe feito de queijo e uma calda doce, e levar de volta para sua família em Bethlehem. Eu e Karma fumamos enquanto bebíamos café num copo de poliestireno, e ela ouvia atentamente a explicação de Nidal sobre o que estávamos fazendo e por que aquilo valia a pena. Karma nos apresentou a Fayaz Arafat que administra o Centro Cultural Yafa (Yafa Cultural Center) e ele nos contou sobre seu trabalho com jovens. O encontro foi bom e concordamos em ser parceiros. No caminho de volta para Bethlehem, um soldado do posto de controle nos perguntou o que tinha dentro daquela enorme caixa branca que estava no banco traseiro

“É kanafe!” exclamou Nidal, alegremente

O jovem soldado olhou curioso

“Posso pegar um?!” ele brincou

“Sim! Pega!” respondeu Nidal, orgulhoso de ter o melhor kanafe da Cisjordânia

E se seguiu um momento embaraçoso em que ninguém sabia muito bem o que fazer; a alegre camaradagem entre seres humanos se tornou rapidamente obscurecida pela política e poder, e o trágico status quo.

WFC organizou dois programas no campo de refugiados Balata, um de curta-metragem de ficção e o outro de documentário de curta-metragem, ambos com tutoria de Nidal e gerência de projeto de Nida. Nessa época, Nida’ também começou a conversar com o Chefe do Consulado Britânico (Head of the British Council) na Palestina e a Fundação Qattan (Qattan Foundation) sobre expandir nossos programas por toda Cisjordânia.

No Rio, nós começamos a trabalhar em uma favela chamada Morro dos Prazeres. Conheci Claudia, que coordena as aulas de teatro, através de um de seus alunos, um rapaz chamado Shampoo. Shampoo era um músico de São Paulo que se mudou pro Rio para promover sua carreira. Ele alugou um lugar na favela com outros jovens brasileiros aspirantes a artistas que estavam lentamente, porém absolutamente avançando socialmente. WFC realizou dois programas no Morro dos Prazeres. O primeiro foi um programa de curta-metragem de ficção e o segundo, um de documentário de curta-metragem.

De volta a Londres, Roxy Holman estava buscando um grupo para trabalhar com a gente. Conheci Roxy dando aula de cinema numa escola de crianças da periferia. Nós duas testemunhamos os efeitos positivos no nível de autoestima e capacidade de buscar soluções para os problemas do dia a dia. Roxy usou delineador preto, tinha sardas e fazia as coisas acontecerem. Com um pouco de pesquisa, ela descobriu Ape-Media, uma organização de jovens trabalhando com crianças em risco de expulsão escolar. Ape usava aulas de cinema, teatro e música para levar crianças de volta à educação. Trevor coordenava a Ape-Media e ele foi super legal. Ele concordou com uma parceria com o WFC em um projeto em uma escola no Leste de Londres. Dei aulas com Ngoni da Ape-Media e Shazia Ur-Rahman, que eu e Jess Morgan contratamos através do website do Conselho de Artes (The Arts Council)

Com uma doação do Governo foi possível ao WFC dar sequência a mais um programa de documentário em curta-metragem. Foi dada carta branca para fazer um filme sobre qualquer assunto importante para eles, os meninos em particular estavam certos que deveria ser sobre a polícia comunitária. Revistas policiais eram uma constante em suas vidas e algo que os enfurecia. Dois anos depois, o WFC iria responder aos protestos de jovens que se deflagraram por toda Inglaterra ao coordenar um programa que considerou suas causas. Das quatro principais causas identificadas pelos estudantes, revista policial foi uma das mais citadas.

whatwevedone

O grupo criou uma marca e um website para o projeto. Dzola Goldsmith, um jovem rapaz que nos foi indicado pelo The Prince’s Trust (com quem fomos parceiros no projeto dos protestos) veio com o nome: O que nós fizemos.

É sempre difícil conseguir arrecadar fundos para caridade. Nós tivemos sorte. Bem no começo, minha mãe, Cate Haste, doou dinheiro inicial para podermos realizar nossos primeiros projetos na África do Sul, Brasil, Palestina e Londres. Uma vez tendo provado sermos capazes de fazer um projeto, Miles Morland, um pioneiro investidor na África, concordou em doar 25 mil libras ao WFC na condição de que conseguissemos outras 25 mil libras. Nós conseguimos.

Progressivamente, nós procuramos maneiras de mudar o WFC para algo mais comercial na tentativa de manter sua sustentabilidade. Isso começou na África do Sul. Após o sucesso do projeto da Copa do Mundo, uma empreendedora digital, Emma Kaye, nos pediu para criar um curta, um filme de 1 minuto para uma plataforma que ela estava desenvolvendo na maior rede social da África do Sul, Mxit. A equipe criou a marca – Mopix – e começou a fazer filmes de curta-metragem para a plataforma. O modelo de negócio era “pague por download” (pay-per-download), assim os usuários iriam pagar um baixo valor para ver cada filme. Também existiam subprodutos como papel de parede e protetor de tela da equipe, que na verdade se tornaram muito mais populares do que os próprios filmes. A telefonia móvel não avançou o suficiente até 2010 para a maioria dos Sul Africanos poderem ver com facilidade filmes em seus celulares, e o baixo custo por cada download geraria lucro somente se milhares de milhares de pessoas fizessem download dos filmes.

Apesar de dificilmente fazer algum dinheiro, a série era realmente fantástica. O Reverendo, de quem alugamos o hall da igreja em Khayelitsha para o programa da Copa do Mundo, concordou em continuar nos alugando o espaço por um baixo custo. Esse se tornou nosso escritório de produção e, pelo que sabemos, foi a primeira e única empresa produtora de cinema e vídeo da periferia de Khayelitsha. Simi era parte da equipe, assim como Ntombi, Akhona, Pelisa, Mendile, Spokazi, Bora e Manez.

De tempos em tempos, oportunidades de financiamento nos levavam em direções que não podiamos antecipar. Este foi o caso do programa desenvolvido na Rússia, que foi encomendado pela Russian Century, a fundação dos filantropistas russos, Marina Goncharenko e seu marido. A fundação já estava patrocinando um orfanato em Kaluga, sul de Moscou, e Marina sugeriu que fizessemos um programa por lá. Lucie Capel, fluente em Russo e velha amiga minha do Jovem Teatro Nacional (The National Youth Theatre), foi até lá para coordenar um programa de curta-metragens de ficção com as crianças. Ela contratou o cineasta baseado em Moscou, Geddadii Fadeev, para ajudá-la e as crianças fizeram um curta chamado “Pescaria” (“Fishing”)..

De volta na África do Sul, A Comissão de Cinema da Cidade do Cabo (Cape Film Commission) concordou em financiar um programa de treinamento para qualificar cineastas amadores. O resultado foi uma série chamada “Você quer me conhecer?” ou ‘Uyafun’undazi’ em Xhosa. Cada episódio de 12min pegou uma estatística comum relacionada às periferias e retratou uma pessoa vivendo naquelas circunstâncias. Os resultados foram incríveis.

WFC esperava vender as séries para um canal nacional da África do Sul, mas não houve aceitação. Megan Crampton administrou o programa. Eu e ela nos conhecemos em Jo’burg quando ela estava trabalhando como produtora, diretora e editora freelancer. Se alguém seria capaz de vender essas séries, esta seria Megan. Mas, não vendeu. No entanto, a história da jovem mulher apresentada em um episódio, que se tornou orfã da AIDS e ganhou o concurso de beleza de Miss Khaylitsha, capturou a imaginação da revista Glamour e eles escreveram uma reportagem sobre ela. Este foi o primeiro destaque feminino da periferia já impresso em uma revista.

Foi em 2012, quando o WFC estava realizando a Parte II do O que nós fizemos, nosso projeto analisando as causas dos protestos de jovens na Inglaterra que eu comecei a falar com The UK Premier League sobre um possível projeto. O programa proposto seria elaborado em parceria com o Futebol Amador (Grassroots Soccer), uma brilhante organização que usa o futebol para ensinar mensagens de prevenção do HIV para jovens excluídos do mundo. A sinergia foi palpável. Concordamos em nos juntarmos. Montei um kit de treinamento de três meses no qual combinei o currículo do Futebol Amador (Grassroots Soccer) com o do WFC e permitia aos participantes começar a desenvolver suas próprias campanhas.

É difícil expressar a sensação de realização quando cineastas amadores que estiveram em seu programa começam a irradiar uma nova luz para antigas questões. A honestidade jovial deles combinadas com as respostas que ele receberam em suas comunidades – que não estão na defensiva e ao invés disso desejam ajudar – é eletrizante. Enquanto observadora, aprendi tantas coisas sobre HIV com esse programa. Ver claramente nas emoções, percepções e cultura de uma comunidade lutando duro para lidar com uma crescente pandemia, que enfraquece os membros de suas famílias, deixa orfãos seus amigos e vizinhos, e ainda se mantém um tabu, é uma descoberta de proporção monumental.

Fiquei satisfeita em descobrir que esse tipo de engajamento juvenil está sendo levado a sério como um campo de pesquisa em instituições acadêmicas como a Universidade de Harvard. Helen Haste, uma Professora do Departamento de Educação em Harvard tem sido uma apoiadora de londa data do WFC e explica aqui como nosso trabalho encaixa em um contexto global.

kaltcha-pioneers-LOGO

Os 18 estudantes originais do programa com o Futebol Amador (Grassroots Soccer) criaram uma marca chamada Pioneiros Kaltcha (“Kaltcha Pioneers”) (um jogo em Khayelitsha) e deram eles mesmos o slogan, “Jogando para o Futuro” (“Rolling for the Future”). Com essa marca eles pegaram os formatos ensinados como parte do currículo e criaram com eles. O resultado foram alguns filmes absolutamente maravilhosos.

Nessa época, a TV da Cidade do Cabo ouviu falar sobre o que estávamos fazendo e perguntou se poderiam transmitir a série de filmes do Pioneiros de Kaltcha (“Kaltcha Pioneers”) nas vésperas do Dia Mundial da AIDS. Entrei em contato com Tom Messett na Nokia e ele concordou em patrocinar a série. Alguns poucos selecionados do grupo original foram então escolhidos para produzir a série com a mesma marca, Pioneiros Kaltcha (Kaltcha Pioneers). Criar no formato que havia sido desenvolvido e avançar, a equipe entregou os curtas-metragens para a CTV. A partir daquele momento, a mensagem da campanha começou a ficar mais clara. Faça o teste! Saiba seu Estado de Saúde! (“Get Tested! Know your Status!”)

Mxit tinha também ficou sabendo da campanha dos Pioneiros de Kaltcha (“Kaltcha Pioneers” e ofereceram uma plataforma na sua rede social de celulares para exibir os filmes. Os Pioneiros de Kaltcha (“Kaltcha Pioneers”) não iriam perder essa oportunidade, e eles elaboraram uma campanha para o Dia dos Namorados com a mensagem, AME SEU PARCEIRO. SAIBA SEU ESTADO DE SAÚDE (“Love your partner. Know your status”). A resposta foi maior do que alguém poderia ter imaginado. Junto com conversas abertas e em profundidade no Facebook em resposta para dúvidas como, “Por que as pessoas escondem de seus parceiros seu hiv status? e “O que você espera de um relacionamento (muitas dessas respostas foram posteriormente deletadas pelo Facebook…!), a plataforma Mxit pareceu dar as pessoas espaço para se abrirem sobre suas próprias experiências de viver com HIV. Em resposta, a equipe se associou com um grupo de apoio online de HIV para o qual eles indicavam aqueles pedindo por ajuda. Foi uma mobilização surpreendente, dirigida por pessoas de dentro da comunidade, para pessoas da comunidade. Nós esperávamos que uma grande organização de conscientização sobre o HIV pegaria a campanha e a levaria para outro nível. Infelizmente, nenhuma fez isso.

Nossa grande conquista na África do Sul veio um ano depois quando Monde Twala, Diretor de Programação (Head of Programming) para o eTV (um canal comercial de TV na África do Sul) concordou em encomendar uma série de vinhetas de curta-metragem, para seu novo canal eKasi +

Esses filmes de 5min mostraram a periferia em uma luz completamente nova, evidenciando todas as coisas interessantes que estavam acontecem na comunidade: das últimas bandas, festivais de arte, empreendedores de moda e negócios independentes a quiosque de lanches, ciclistas da periferia e VIPs em clubes noturnos.
Transformar a maneira que as pessoas viam comunidades marginalizadas através da produção e exibição de mídia feita por pessoas que vivem e trabalham dentro dessas comunidades era o objetivo que o WFC vinha tentando alcançar desde o início. Com essa série, nós conseguimos.

No Rio, Vanessa estava preparando um programa para cobrir a Copa do Mundo de 2014 a partir da perspectiva das favelas e das ruas.

Tutores foram selecionados a partir de sessões de treinamento que tinhamos organizado lá em 2009 com o Cinema Nosso, uma escola de cinema para crianças moradoras de favela fundada pelo diretor Fernando Meirelles depois do lançamento de seu premiado filme, Cidade de Deus. Em um poético ciclo de sorte, nós realmente formamos parceria com um grupo de jovens da favela Cidade de Deus para fazer isso.

Retornando a Londres, conscientes que a crise de refugiados estava aumentando com mais e mais pessoas se deslocando para a “Selva” de Calais e usando redes sociais para relatar o que viram. Depois de alguma reflexão, decidimos criar um programa na “Selva”, permitindo as pessoas vivendo dentro do campo relatar o que estava acontecendo a partir de suas perspectivas. Chamamos esse projeto de Calais FALA (“CalaisSPEAKS”) e o realizamos durante uma semana em Setembro de 2015. A maioria dos participantes era da Síria e os filmes deram a visão de variados aspectos do campo, da prestação de serviços a segurança para a comunidade.

Esse programa é um que esperamos repetir de novo em Calais e também no Grande-Synthe, em Dunkirk, assim como em comunidades de refugiados de outras partes da Europa enquanto a crise se intensifica.

Nossos doadores tem sido incrivelmente generosos ao longo dos anos, mas infelizmente o WFC nunca foi capaz de comercializar com sucesso seus trabalhos. Com o lançamento de nossos recursos educativos online e acervo de filmes, estamos esperando que cineastas, gerentes de projeto, jovens trabalhadores, acadêmicos e qualquer um interessado em se tornar ele mesmo um cineasta amador (grassroots filmmaker) irão pegar um celular e usá-lo para contar histórias. Na essência do WFC está a crença de que os seres humanos entendem o mundo, eles mesmos e os outros através de histórias. O poder de contar uma história é o poder de influenciar. Ao criar histórias, podemos nos conectar com pessoas que não conhecemos e que talvez nunca iremos conhecer. WFC tem tudo a ver com criar conexões significativas entre seres humanos e quanto mais histórias, melhor. Faça parte dessa história!